domingo, 29 de dezembro de 2013

Sublimação

Torpor,
era o aroma
da rua
nos dias de cansaço
e de incêndio

substancialmente se erguia em mim
uma calma silenciosa,
uma multidão surda,
em meio à elegia dos móveis e dos
automóveis desesperados

uma espécie de paz se estendia,
uma comunhão com as sombras
e a incapacidade,
um quase abafamento
dos roncos estrondosos do peito
em pneumonia

olhava para mim e
fazia-me cada vez mais farto,
imóvel, telúrico,
escondia-me sob as palafitas
dos livros e da fantasia,
militava pela concretude,
de toda a inexistência,
aguardava ansioso o pôr-do-sol
e a glorificação
de todos os lunáticos

jogava-me ao chão
e o som do mundo me ensurdecia,
girava, girava, e era sempre igual,
a mesma falta de sorte,
os mesmos rostos revoltosos,
voltados para baixo,
o mesmo vento envelhecido,
a mesma cara de sombra

Da noite nascia a penumbra,
das esquinas o medo,
os homens se faziam de cegos,
as prostitutas de inocentes,
os espelhos de  estilhaço
enquanto eu,
que tentava ser de plástico,
periclitava pelas ruas do real
e do absurdo.

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