Torpor,
era o aroma
da rua
nos dias de cansaço
e de incêndio
substancialmente se erguia em mim
uma calma silenciosa,
uma multidão surda,
em meio à elegia dos móveis e dos
automóveis desesperados
uma espécie de paz se estendia,
uma comunhão com as sombras
e a incapacidade,
um quase abafamento
dos roncos estrondosos do peito
em pneumonia
em pneumonia
olhava para mim e
fazia-me cada vez mais farto,
imóvel, telúrico,
escondia-me sob as palafitas
dos livros e da fantasia,
militava pela concretude,
de toda a inexistência,
aguardava ansioso o pôr-do-sol
e a glorificação
de todos os lunáticos
jogava-me ao chão
e o som do mundo me ensurdecia,
girava, girava, e era sempre igual,
a mesma falta de sorte,
os mesmos rostos revoltosos,
voltados para baixo,
voltados para baixo,
o mesmo vento envelhecido,
a mesma cara de sombra
a mesma cara de sombra
Da noite nascia a penumbra,
das esquinas o medo,
das esquinas o medo,
os homens se faziam de cegos,
as prostitutas de inocentes,
as prostitutas de inocentes,
os espelhos de estilhaço
enquanto eu,
que tentava ser de plástico,
periclitava pelas ruas do real
e do absurdo.
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