domingo, 29 de dezembro de 2013

Meio amor em conto

Ela me olhava e via,
no fundo meus olhos,
escondida atrás de minha barba,
uma lágrima fria e pendular

Eu olhava pra ela inexpressivo,
Agarrando numa mão a cólera,
Na outra o encantamento,
Deixando-me circundar aos passos,
por uma multidão de sombras frias

Haviam me dito um dia que o amor era real
e perfeitamente possível,
tinham me amarrado aos pés sem que eu soubesse,
tinham me dado nó de um laço sem chaves

Salgaram a minha carne,
Adoçando a vida com mentiras,
com volúpias, com imagens,
criaram um mundo mágico,
fatos inteiramente feitos
para se chocarem com a realidade

E em um prazer quase sádico ela me indagava:
Farás o que, então?
Era um eco em uma casa vazia,
um som perdido em um salão

E eu que já nada mais podia,
além de um contemplar extático,
de um grasnar primordial e silencioso,
de um lagrimejar agudo e dificultoso
irrompia de dentro de mim à gritar

Fazer o que, então?
Nada! Nunca!
Em vão.
O que seria o amor,
Se não fosse
ficção?

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