domingo, 29 de dezembro de 2013

As bolhas

As bolhas roubam o oxigênio,
aprisionam sua essência,
deformam sua molécula,
redimensionam reflexos,
vomitam luzes,
interrompem as parabólicas,
explodem emitindo sinais em código Morse.
As bolhas são um mundo à parte,
uma pequena clausura, um opúsculo,
uma quase virgindade,
são um pouco de tudo,
um corpo que infla, infla,
e por fim,
inexiste.

São Paulo

Sem medo,
sem teto,
caminho
cem passos,
sentado,
calado,
escravo
da mordaça.

Vou pela Paulista,
pelo centro novo,
palco das artes,
do monopólio,
sepultura do povo

Prossigo alto,
de cabeça baixa,
dou com o centro velho.
Tudo é memória.

O desespero me assalta,
muitos são os corpos
em declínio,
em decomposição,
miro o céu
mas o único brilho
são os olhos
dos abutres,
dos tucanos,
da velha nova
aristocracia urbana.

Desoriento,
desapareço,
me desligo,
aperto o off.

Volto a mim na higienópolis,
cidade higiênica,
há algo errado,
repito,
há algo errado.

Os muros,os bares,
a mistura dos cheiros,
as damas da noite,
o aroma dos cadáveres,
nada me convence.

Sou agora
órfão da tristeza,
o prisioneiro do tempo,
filho bastardo da lucidez,
o alcool já não cura.

Mergulhei na
incompreensão orgânica,
no abismo insólito,
na minha
doença degenerativa.

Perdi São Paulo
e não há quem devolva,
seja a terra,
o apóstolo,
ou qualquer outra,
ilusão individual.

Prosa

Na solidão do cais Monótono,
surge a palavra,
carácter contínuo

No mar de sentidos
que tece o tempo,
aparecem os barcos,
os mastros, as velas,
as Naus à transportar
o indizível

Vem e vão os impulsos,
os sádicos, os psicóticos,
e o que era calma
vira ritmo, cerebral,
alucinógeno,fulminante

Segue o fluxo,
a onda, a ressaca,
o dúbio empuxo,
a profunda dinâmica,
versos e reflexos
em sintonia,
perde-se a hora

Tudo é prosa,
enxuta e despudorada.
E só o frio da chuva,
o despertar da madrugada,
acalma o ânimo,
apaga o relato
e deixa o rastro

Confissão

Confesso,
estou perplexo,
acanhado,
mergulhado
em insígnias.

Confesso,
sou o ontem, 
o que já passou,
o que não faz caso,
o que foi.

Confesso que errei,
que sou sou hipócrita,
que finjo bem com as palavras,
que pareço inaudível,
que sou infiél.

Confesso ainda,
que na confissão
não purifico,
não mudo,
sou estável,
confesso apenas,
confesso.
Memória e tempo,
fios entrelaçados, 
lapsos infinitos,
recortes no vácuo,
fragmentos de espaço

Crianças buscando a infância,
criaturas pobres evanescidas,
perdidas em ventos de lampejo,
borboletas etéreas embaraçadas
em teias de monólogos cortantes

Vozes pacificadas pelo silêncio,
trilhas sonoras cortadas à pulso,
síndromes estáticas enclausuradas
em mártires

Gritos, sussuros, inquietude,
gemidos, surtos, juventude,
cada segundo um fascínio,
um novo delírio,
uma câimbra.

Política

Ser do tempo,
da analítica,
ser humano,
ser política,
ser filósofo,
lenda mítica,
ceteris paribus,
de que vale a vida,
sem a crítica?

Amor

Para minha mãe


Para minha mãe, que diz que eu não sei falar de amor

Amor tirano,
Amor tifóide,
Amor de febre,
Amor andróide

Amor de fera,
Amor humano,
Amor de era,
Amor de ano

Amor de vida,
Amor de morte,
Amor de ida,
Amor de sorte

Amor de mente,
Amor contente,
Amor constante,
Amor de instante

Amor de grego,
Amor de Maya,
Amor de leigo,
Amor de gaia

Amor,
Amor,
Amor.

Unreachable Love

to Carmô Senna

For this time of true love,
I feel static,
beyond the hell's fire,
of madness,
beyond the great cold
of Artic

By the darkest ways of moon,
feeling far the poor love of whom,
I fell down softly,
from the nightmare's gloom,
losing your voice in oblivion,
going myself to doom.

And for this hearth ache, I write,
spending in words all my bright,
leaving my pureness,
my sorrow,
Oh! I might!
reminding your beauty,
your love,
my own light.

Balada do tempo

A vida é tanta,
o tempo é pouco

A vida anda,
no tempo oco

O tempo louco,
a vida cansa

A vida mansa,
no tempo novo

No tempo moço,
a vida avança

O tempo manda,
não faz ciranda

Tráfego

Interpenetrado,
soou o gongo.
O cheiro das luzes
revirou a descontinuidade
dos tijolos da calçada.
Perdi o tato.

Acusei-me de suplício,
auto-flagelação de mim.
Tocaram os sinos,
a mesma missa, eu rezava
todo dia. Nunca soube
não ser eu.

Foi-se a liquidez tempo,
era meio dia,
soavam oito mil buzinas,
duas oitavas acima.
Perdi meu meio tom.

Pétalas Suicídas

Dou-te
esta rosa
como prova
de meu
desacato

Toma-a,
recolha-a
e finja
que é tua
como todo
resto
que tens

Sonha com
o mundo
perdendo-te
em delírios
infantis

Inebria-te
com as coisas,
o dinheiro,
as pessoas

Conquista
a tudo
e a todos
como se
tudo
realmente
pudesse
ser
conquistado

Prova ao mundo,
que és senhor
de si
e de tuas
posses

Mas quando caires,
quando finalmente
despertares
de teu universo
ânimico

Lembra-te da rosa,
que sendo parte
de mim
foi a única coisa
que verdadeiramente
te pertenceu

Meu desprezo,
meu protesto,
meu desespero.

Sonteo totalizador

De todo o frio quis o acalanto,
de toda alma a rima,
de todo o ferro a lima,
de toda ser o pranto

de todo sentir eu fiz o manto,
de toda idéia fiz o verso
de todo rico e inverso,
de todo querer é que fiz tanto

de toda confusão fiz minha sina,
elaborada, íngreme, masculina,
de toda esquina, fiz colina

de tudo e todos quis um tanto,
fosse homem, palavra, santo,
de tudo e tanto, quis um canto

Meio amor em conto

Ela me olhava e via,
no fundo meus olhos,
escondida atrás de minha barba,
uma lágrima fria e pendular

Eu olhava pra ela inexpressivo,
Agarrando numa mão a cólera,
Na outra o encantamento,
Deixando-me circundar aos passos,
por uma multidão de sombras frias

Haviam me dito um dia que o amor era real
e perfeitamente possível,
tinham me amarrado aos pés sem que eu soubesse,
tinham me dado nó de um laço sem chaves

Salgaram a minha carne,
Adoçando a vida com mentiras,
com volúpias, com imagens,
criaram um mundo mágico,
fatos inteiramente feitos
para se chocarem com a realidade

E em um prazer quase sádico ela me indagava:
Farás o que, então?
Era um eco em uma casa vazia,
um som perdido em um salão

E eu que já nada mais podia,
além de um contemplar extático,
de um grasnar primordial e silencioso,
de um lagrimejar agudo e dificultoso
irrompia de dentro de mim à gritar

Fazer o que, então?
Nada! Nunca!
Em vão.
O que seria o amor,
Se não fosse
ficção?

Poemas curtos


1 -

Formas novas brotam no meu estômago,
Não posso tragá-las,
Nem entendê-las,
Só sei que são ideias
E que não passam

2- 

Triste é a vida,
labirinto cuja entrada
e saída,
são feitas pela mesma
porta.

3- 

A vida é sina,
a vida ensina,
a vida é cena,
a vida encena,
a vida em cena

4 - 

Escrever é tudo quer faço,
escrevo com alma
escrevo com rima
escrevo com aço,
escondo virgulas,
corto palavras,
emendo um traço,
me descubro,
me recrio,
me disfarço.

5 - 

Toma-me como um insulto,
como teu insumo,
como tua suma,
como tua soma,
como teu, em surto


Atrito

“Não se pode dividir um homem em dois e pegar sempre a mesma parte”John Steinback – A leste do Éden


“Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,E a história não marcará, quem sabe? Nem um”Álvaro de Campos


O som do atrito entre a roda e o trilho anunciava os vagões que adentravam lentamente o espaço da estação. Os ponteiros do relógio pendurado no local de embarque indicavam vinte e três horas e cinqüenta e oito minutos da quarta feira, o que significava que aquela era provavelmente a última viagem do dia.No limiar da plataforma, entrevia-se um único corpo esguio que balançava em movimentos contínuos invadindo e deixando o espaço que muito em breve seria ocupado pela enorme estrutura de ferro do trem errante que penetrava o vácuo. Era um típico jovem, albino, de nariz alongado e excessivamente fino. Vestia um casaco de couro preto, fones de ouvido externos, uma calça vermelha apertada e uma camiseta branca, rasgada, com o símbolo da banda de rock Radiohead estampado no centro. O ruído dos trilhos, e o som que brotava da sola da bota , formavam uma sinfonia inaudível.Quando a máquina finalmente parou, o corpo acelerou-se e adentrou o vagão que, à despeito não estar completamente cheio, também não estava de todo vazio. Sentou-se furtivamente no primeiro assento disponível sem reparar quem ou o que estava ao seu redor, nem mesmo o som das respirações pesadas do cansaço eram capazes de despertar o menino dessa espécie de transe que envolvia a ele e todos os outros no enorme arquipélago da cidade moderna.Demorou quase cinco minutos para dar-se conta da presença dos únicos dois corpos ali prostrados. Um velho corcunda que trajava óculos de lentes muito grossas e apoiava-se sofregamente sobre uma bengala e  um homem de meia idade maltrapilho e ostentando uma barba de três dias, jogado horizontalmente ocupando para si o banco que deveria servir à duas pessoas. Ambos o olhavam fixa e tristemente.Sentindo um calafrio percorrer sua espinha o menino indagou em voz tremida : - Quem são vocês? O que querem de mim? De repente, ouviu-se um forte estalido e os corpos projetaram-se um tanto para a esquerda antes de voltarem à posição incial o trem havia parado bruscamente sem ter chego à lugar nenhum. Por alguns segundos pairou no ar um silencio sepulcral, os corpos envelhecidos continuavam a rígida observação, cada segundo inspirava um novo medo, uma nova pergunta no interior da alma do jovem. Os lábios do homem de meia idade mexeram-se deixando escapar um murmúrio:- Eu sou aquele que vê mas nunca fala.E o velho retrucou em voz grave:- E eu sou aquele que escuta e nunca diz- Como assim? O que isso significa? Devem estar de brincadeira! Quando toda essa besteira irá acabar? – disse o garoto perplexoNão responderam, continuavam quietos em pura contemplação, como se nada houvesse  além daquele instante, daquela chance.O menino, por sua vez, atravessava neste minuto um corredor da morte úmido e apertado, a trágica experiência da percepção do outro, o choque brutal dos olhos indecifráveis que o comiam como leopardos que devoram os filhotes de outras espécies menores. Não estava acostumado aquela situação, os trens eram sempre cheios mas a grossa barreira dos fones de ouvido e o olhar vago, perdido em esferas imaginárias, costumavam criar a área necessária para aquela existência individual que se arrastara até ali como um bote à deriva no oceano. E agora, com espaço de sobra no interior do vagão  o  menino fraco e magricela sentia-se absolutamente sufocado. Já não havia música.O velho olhava com cara de pena para o menino, lembrava-se de como os problemas pareciam maiores quando era jovem e como cada situação nova era realmente um desafio. O homem de meia idade não se surpreendera, não estava distante o suficiente dos tempos de juventude para ter se esquecido de como era se sentir assim, por outro lado, já não tinha a mesma gana.O menino fixou-os com uma expressão mista de cólera e medo. Nesse momento,  deixava transparecer aquele lado selvagem escondido no interior da alma humana, aquele nosso instinto animal que fica armazenado bem no fundo de cada um e que explode em convulsão aos primeiros sinais de medo. Ergueu-se com força, caminhava agora como uma besta enraivecida.Não pode de dar mais do que dois passos, de súbito o velho saltou fora do túmulo que o prendia e utilizando-se de uma voz soberba e autoritária gritou:- Acalme-se imediatamente Menino! Guarde toda sua fúria para aqueles que a merecem, aqui não há inimigos.- Me tirem desse inferno, PAREM DE TOMAR MEU TEMPO! – Retrucou o jovem em resposta- Ninguém pode tomar seu tempo, meu caro amigo, ele é um tango trágico que se dança só, onde cada novo movimento se constitui em uma perda irrecuperável para o passado. Toda pausa demora  apenas o suficiente para que exista como coisa material e palpável, como todo o resto nesse mundo que nunca para – Retrucou o velhoE o homem de meia idade sentou-se e disse.- Aproveite o tédio meu caro, no limite, tudo é apenas o intervalo entre uma estação e outra. Aquilo soava absurdo, frases a esmo, figuras esquisitas, uma interrupção prolongada e fora de propósito que não havia nem ao menos sido justificada pela voz eletronicamente modificada do comandante da lotação. Para completar,  o aparelho de MP4  insistia em não recriar a proteção sonora e visual contra a realidade, por mais que o menino tocasse os botões usando os dedos. - PORQUE ESTAMOS PARADOS?!  - Gritou o menino- Quando estivemos em movimento? – Retrucou o velho- Repare garoto, nossas vidas foram uma sucessão de imobilidades disfarçadas como atos, um acúmulo de ilusões criadas em forma de problemas para serem resolvidas em tempo recorde, tendo como recompensa uma satisfação apenas momentânea. Jogos e mais jogos arquitetados e decifrados simplesmente para serem esquecidos uma semana depois. – Tornou o velhote.O homem de meia idade levantou-se, caminhou até o menino, olhou para o velho que cansado tornara a sentar-se, estendeu  a mão disse para o infante:- Venha comigo.O menino olhou-o assustado, não sabia o que aquilo significava, se deveria ir ou não. Para onde iriam? Mesmo assim, sentia como se não houvesse outra coisa a fazer. Deu a mão para o homem de meia idade, levantou-se e juntos começaram a caminhar pelo corredor em direção ao vagão da frente (o trem era daqueles onde cada carro está diretamente ligado ao outro e é possível atravessar pelo seu interior de ponta a ponta).Vendo os dois assim, de costas, são apenas um – Pensou o velhoInvejou a ambos por suas pernas firmes. Queria poder ter tudo novamente, a coragem, o ânimo, enfim, a juventude. Diferente da maioria, sabia que se fosse jovem novamente, cometeria os mesmos erros, seria afoito pelo passar do tempo e quando chegasse novamente a velhice, tornaria a querer ser novo, e isso era assombroso, pois ao mesmo tempo, estava exausto de tudo.A vida era provavelmente seu pior vício, destes que absorve toda a existência de um homem e que não costuma ir embora facilmente. O velho passara anos à procurar um futuro que nunca chegava, até que um dia cansou-se e passou então a procurar um passado igualmente distante. Agora, via-se condenado ao desaparecimento, a ser só mais uma das muitas imagens que sendimentam tornando-se  a inerte  matéria prima da História, algo que tanto o entristecia quanto o agradava.O homem de meia-idade disse:- Menino, preste atenção. Vim à esse lugar para te dizer coisas que não posso mais. Vim tentar te mostrar como seriam seus próximos anos, como não deixar eles simplesmente passarem. Agora percebo que não tenho nenhuma dessas respostas, nem para mim nem para você. Trouxe comigo a pose de mestre onisciente, e agora caio de joelhos  frente a você como um cão que não sabe sequer o caminho de casa.E porque isso de dizer sobre os anos que ainda não me vieram, de querer prever-me um futuro que ainda nem existe? - disse o meninoO homem de meia idade fixou os olhos no rosto inocente da criança, não mais com  o ar de superioridade com que o vira na primeira vez. Calmamente disse:Essa é uma necessidade minha, não sua. Por muito tempo achei ser necessário vir aqui e te dizer tudo, agora já não tenho o que falar.O menino olhou-o ainda mais perplexo. Nunca havia pensado no futuro sob a perspectiva do passado, sempre o via como um alvo próximo, como algo que quase podia ser tocado com as mãos. Quase que contra sua vontade estava aos poucos sendo invadido pela perspectiva póstuma do homem de meia idade e o belo retrato do tempo começava a se colororir com cores frias.Acho que te entendo - disse o garoto fitando o vazioOs olhos do homem de meia idade umideceram-se. Entendeu de súbito que infectara o menino, baixou os olhos e disse.Escute bem meu caro, isso tudo é um equívoco. Acreditando estar desenganado tentei trazer-te uma perspectiva diferente, sem perceber que com isso, eu próprio continuava a sonhar!Era tarde, ambos agora pensavam um tanto como o outro e sentiam-se infelizes por isso. Sem perceber chegaram ao último vagão onde o mesmo velho estava sentado. Olhava-os agora de frente como quem espera que o passado chegue.Não demoraram quase nada - disse o velho esboçando um sorrisoÉ curta a distância entre dois passos - disse o homem de meia idade já mais conformadoÉ verdade -Concordou o velhote.Os homens maduros fitaram uma última vez aquela figura franzina que já não era  tão  moço e sentiram-se dominados por uma enorme impotência.- Você sabia que acabaria assim, não é? - Perguntou o homem de meia idade- Sim - Retrucou o velho- Sabia de tudo e no entanto permitiu as coisas acontececem exatamente da mesma forma. Quantas vezes isso terá que se repetir? Quantas forem necessárias. Infelizmente isso foge do nosso controle, mas eu só percebo agora e tenho certeza que não me lembrarei amanhã, por falar nisso, precisamos ir embora, ele tem de absorver  sozinho - disse o velhoTem razão - disse o outro velho.Sumiram sem que o jovem se desse conta, tão repentinamente quanto tinham aparecido.O desespero  havia tornado-se sólido e se materializava como algemas que prendiam as mãos de Jordan aos joelhos e estes ao chão. De súbito todo o mundo desabara sem deixar vestígios, como um castelo de cartas atingido por um furação.  Toda a indiferença quanto ao amanhã  desaparecera e ele sentia os anos fluindo pelos empurrões da multidão que o circundava, pelos poros do rosto por onde nasce a barba,pelo ranger dos ossos gastos de suas rótulas.. O trem estacionou na plataforma e pelas portas do ultimo vagão saiu apenas um homem magro e alto, de  aproximadamente trinta anos, que era por si só uma turba. Era por si só único e ao mesmo tempo não diferia de nenhum outro. Caminhou em passos firmes  até desaparecer nos degraus da escada de acesso.

Tango

Olhei para mim e vi,
um eco rubicundo,
uma peça silenciosa e perdida
na multidão ensurdecedora,
encolhido no vácuo de sussurros
engatilhados

eu era o olho,
a pupila, 
um cego mergulhado
em um cadafalso
que pensava com a retina
e quase não sentia
cheiro

eu era um feto
e o mundo já andava,
eu era a crise e o mundo só gritava,
eu era a sombra dançante das paredes
enquanto tudo era
ou se fazia 
de normal