quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Confissão


Já não posso dizer que estou sóbrio,
as pernas já me falham
e o ritmo da taquicardia só sobe.
Entre o hoje e o pra sempre
esvai-se a razão
fraqueja-me o sopro

desde a ultima vez que te vi
achando eu que seria pra nunca,
pra mais que fosse,
rebento depressivo da união

E onde estão nossos pés
caminhando em paralelo?
e onde estão nossas mãos dadas
nas ruas dos parques?

Veja bem,
o que condenso aqui
não é o lamento de uma vida
é um grito de desespero
que ecoa em cada osso,
em cada vertebra
do meu corpo.

É uma ânsia incontida,
que me arrebenta
o peito
e me impede
de comer

É um pranto
que cala a voz
e submerge
a alma
em rios de

lamentação

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

É gozado ser assim:
meio letra de música,
meio garrancho de criança
meio casa de pau-a-pique,
sem teto

ser um tanto adolescente
e outro tanto
velho

ter fome,
ter sede,
uma vontade louca
de dançar a noite toda
e ter sono

beijar de língua
infinitamente
enquanto olha o semáforo

mudando de cor

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Entardecer

O céu do entardecer
é Azul Royal
em degradê

Nuvens brancas
dão-me a impressão
de grandes ondas
em ebulição

Minha alma se mistura
com a imensidão celeste
com tons de verde
e com a chama
de um segundo qualquer

Ao mesmo tempo
plácido e inquieto
me refugio do hoje
na sombra do amanhã

na espera que de
a noite seja negra,
mas que o dia,
ainda que cinzento e chuvoso,
derrame luz

sobre todos nós

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Desejo que o silêncio
me corroa
e me torne frio
e impetuoso

para que toque
a cama da lua,
para que dance nu
com as sombras,
enquanto me vejo
em frente ao espelho
sublinhado
em tons de cinza

Desejo que a morte
me torne etéreo
 e me perpetue
como o ápice
de minha inexistência
para que seja uma vez mais

vazio.


Desejo que a angústia
me liquide
e que o medo que tenho
rompa o véu,
açoite o metal
e faça badalar o sino
de um vento

que não sopra.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Quando o vazio dos passos
é maior que a sede pelo cume
é melhor largar a corda

A queda, a vertigem,
nada são além de alucinações
que tramitam nas veias
de um esqueleto frio
 e sodomizado.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O mundo não precisa ser salvo,
nós precisamos.
Prisioneiros famintos que somos
de nossas escolhas.
Filhos aflitos  do amanhã,
herdeiros loucos
da ausência ancestral,
mártires próprio eu
que se infla se encolhe
simultâneamente

Aparta-te de teu mano,
mostra-te único para
que te reconheças
num só corpo,
fixa tua angústia sob a terra

Apresenta-te sob a luz das estrelas,
sob o brilho dos holofotes permanentes,
ergue-te como ídolo
enquanto socializas tua essência

em um mundo que não estás

sábado, 26 de setembro de 2015

Caverna

Lapsos de sobriedade
invadem minha cama
resplandecem na aurora
a angústia de mil cérebros
mbricados, interligados
estilhaçados em rede

Na era do silêncio
faço-me  armadura,
parafina,
sobretudo e ululante

Calam-me os carros,
o choro das crianças famintas,
a luz da vela que se apaga,
a gravidade que me puxa
os pés.

No mar de direções sem sentido,
na caverna de sombras
de homens acorrentados,
mergulho no vendaval de mim
pra me saber me saber homem

Inerte, aflito,imaturo,
sou eu todo corpo e alma
vazio

e terremoto

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sol

Quebro o silêncio e me solto
para não ficar só.
De palavras, me cubro
de mentiras,
todas rotas, terrosas,
alcalinas.
Através de minha língua,
construo bloco vazio
insustentável
e cru.
Giro pelas ruas,
me escondo pelas esquinas,
sambo ao som das buzinas,
morro de rir sozinho
pelos becos.
Essa é minha droga,
essa é minha vacina,
viver a vida de maneira
ensandecida,
sem pausa
e sem direção.
Meu caos se reflete
nas paredes sujas,
nas portas quebradas do armário,
nas roupas espalhadas
no chão do quarto.
Esse sou eu desperto,
ou eu insípido,
ou eu em coma.
Esse sou eu e pronto.
Esse sou eu, e ninguém mais.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Cores

Para minha amiga Geisla, companheira de tantos tropeços, de tantas loucuras.




Meu plano é simples:
Nadar sobre o rio da vida,
mergulhar sobre sua superfície,
remar sobre sua forte correnteza,
(as vezes à favor, as vezes contra).

Olhar por suas águas cristalinas,
(as vezes turvas)
e enxergá-lo de ponta à ponta
e em cada margem.

Sem me afogar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

minha solidão é de mármore,
pedra dura, granito

solto no mundo,
gratino ao som do vento,
sob a luz de um sol negro,
enrolado em uma sombra
projetada no asfalto.

Foi-se o poeta,
o cientista,
sobrou um meio homem,
cheio de ideias,
de vontades,
frio e impotente
perante sua própria
inércia.