sábado, 19 de abril de 2014

Nós

Você desperta
e eu andando líquido,
tímido sobre a calçada

teu batom rosa,
meu peito nú,
tua mini saia
de borracha
e o abismo
entre a voz
e a sombra
dos carros
que passam
cantando freios

a praça cheia,
os ambulantes,
os velhos que mancam,
as ciganas da quiromancia,
uma prostituta deitada
sobre o banco,
um estardalhaço

todos eles personagens,
todos eles inertes,
todos eles sonetos,
todos eles nossos,
teus e meus versos,
e a tarde,
que se mais falasse
seria muda

eu e a esperança
de te ver de novo,
mascando chicletes
e trocando passos
de mãos dadas,
você flertando comigo
e eu embasbacado

você nua nas ruas da república
e eu à espera da meia noite
que não chega,
e de um ranger de ossos,
e de um bater de dentes

eu e você,
como se fosse sólido,
somo se fosse ontem,
como se fosse SEDE.



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