sexta-feira, 28 de março de 2014

História

Homem/diabo
da lucidez
diálogo
lastro
estúpida cena
acaba-se em devaneios
de febre

Fere-te a instância
Automática
Retraída inerte
em sobras e sobras
de homens sóbrios
de sabres nas mãos

paus e pedras
homens e verbas
perdas e ganhos
histórias agudas
que brotam
do ritmo
da rapidez  
do fluxo
solar

quinta-feira, 27 de março de 2014

Coração

Meu coração parou
em meio a rua, 
em meio ao tédio,
em meio a lua

Parou porque viu
um coração de mãe
apertado,
uma criança nua 
no viaduto,
um cão manco
que andava por saltinhos

Parou porque percebeu 
sua impotência,
sua  insignificância,
sua inocência

Parou porque 
era de carne,de sangue,
porque era fraco,
porque não era
capaz de ver os homens
sujos, caídos, machucados,
ínfimos, ríspidos, despedaçados

mas, acima de tudo,
parou porque batia
em meio ao silêncio.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Revolta

Fazer da ausência,
meio de vida,
existir entre frestas,
como reflexo opaco
nos vidros da janela,
mal iluminada

Violentar os campos
da discórdia,
do desgosto,
do desespero,
libertar os homens
de sua humilhação,
expulsá-los
de sua condição
de expulsos,
de expurgados

Tornar-me neutro,
incolor,
apreensível,
sentir na língua
o suor da pele
que gravita
pelos seios,
pelos pêlos,
pelas plebes

Mergulhar no siso,
inquietar-me,
fazer do pão a massa,
da massa o grito,
da escravidão o riso,
de um passado em risco,
das barreiras a convulsão


Fazer da fraqueza
a força,
da terra o chão
da menina a moça,
da liberdade
exatidão



terça-feira, 11 de março de 2014

Despertar


Desperto do espaço
no frio da noite,
na cama da lua,
no calor do mormaço

Desperto do sonho,
como o ás do entorno,
como revvolta sintética,
livre da forma,
da harmonia,
ou do medo,
ou de qualquer
estética

Desperto do infinito
semblante triste,
da marejada face
cunhada em riste,
do brilho calmo
do desconforto,
da alma inerte,
do corpo morto.

Eternamente,
desperto,
da fome,
do medo,
da aurora,
um pouco do todo,
que fui,
desabrigado,
de outrora.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Sally


Repentina paixão
me despertaste.
Teu olhar biônico,
teu ser reminiscente,
teu sangue libertário.
Fez de mim o meu contrário,
entre a ficção e a realidade.
Nossos corpos, as tatuagens,
tudo combinado,
é a perfeita harmonia do caos.
Visto então o vestido preto,
consciente de meu cárcere,
Celebro teu luto eterno
em um copo de vinho,tão seco
quanto o abismo que nos separa.
Olho atento os rabiscos no papel,
não tem forma ou métrica,
é você, simplesmente você
Nem mais, nem menos.
E talvez um pouco de mim.