Olho nu em frente o espelho,
nos vãos do aço
desenha-se a forma mágica
do meu olhar
Entre os elos metálicos
a densa esfera,
turva e maculada
me observa em reação
fria e estática
Afasto-me em passos ígneos,
cruzo a porta em rompante,
dou com a rua,
apresso-me pelas bordas
da calçada,
desvio das borboletas,
arranco pelos corredores
da avenida central
Vou em choque,
criando e recriando
a sombra de paisagens
incandescentes,
de velhos carpindo
a chuva
Um mendigo me aborda,
moços e moças dançam bêbados,
homens de terno reclamam do trânsito,
donas de casa das filas,
executivas das meias finas,
os taxistas da falta de sorte
Um gosto amargo na garganta,
pernas trêmulas,
sentado em frente ao mar,
sobre os muros da represa
enxergo o mundo solto,
livre de mim e abandonado em versos
de obliteração e metástase
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